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O VALOR DAS PEQUENAS COISAS - Mônica Rubinho busca intimismo com miniaturas​​

por KATIA CANTON   

 

 

O mundo de Mônica Rubinho é um mundo liliputiano. A começar pelo seu atelier, uma pequena sala dentro de um outro atelier de artista, que fica numa casa na Vila Madalena, em São Paulo. Dentro dele há obras reduzidas, minúsculas até. Há uma cadeira que quase some no chão, embutida em um canto de parede. Há uma pequenina caixa translúcida com uma inscrição com uma inscrição difícil de decifrar (pelo título, descobre-se que a frase que a obra esconde é: “em busca de caminhos internos”).


Há um quadro com olhos como que “derretidos” pela translucidez do papel vegetal que os recobre. Há ainda um desenho feito de recortes de papel contact imitando fórmica em tons de madeira. Há vários desenhos.


“Desde que entrei na faculdade de arte eu adorava desenhar. Fazia muito tempo que não desenhava porque comecei a produzir objetos, mas agora o desenho voltou, incorporado aos outros materiais”, diz Mônica, que cursou a Faculdade Santa Marcelina.


Pelas obras desta artista paulistana, nascida em 1970, percebe-se que esse universo miniaturizado, repleto de poesia, é também um universo da artesania. “Sou filha de uma artesã e de um marceneiro. Aprendi com eles a ter destreza com as mãos e fico realizada ao fazer linhas delicadas, pequenos e intricados recortes, coisas que requerem talento manual”.


O fazer de Mônica Rubinho é um fazer meditativo. É por isso que o sentido de suas obras, suas imagens, as frases que às vezes as acompanham, ficam ecoando muito tempo depois de nos confrontarmos com elas.


Com suas caixas, vidros, recortes e desenhos em pequenos formatos, a artista transforma o espectador em cúmplice de um diário de sensibilidades. Lega a qualquer observador a condição de voyeur, provocando-o num jogo que oscila entre o explícito e o segredo, a confissão e o engano. A artista convida-nos a espiar suas pequenas obras, que têm o espaço miniaturizado da confissão. Ela cria armadilhas e convites sedutores, por exemplo, mostrando bordados confusos, em que palavras e frases se materializam apenas quando projetadas sobre espelhos que somos obrigados a confrontar.


Numa obra intitulada Como meninos recém-nascidos, de 1992, a poesia reside no espaço intimista de uma antiga caixa de joias. Lá dentro, uma série de trouxinhas de algodão velho, amarradas em fio de cobre sustentando pequeninas pérolas. Lado a lado, as trouxinhas lembram uma vitrine de bebês recém-nascidos, sugerem uma incubadora.


Em 1995, a então galeria Camargo Vilaça, convidou a artista para um projeto. Mônica realizou a obra Você Pode, com vidro recheado com pó azul, um olho e a palavra “VEM” colados em letraset. “O pó, eu tirei de dentro dessas garrafas feitas com areias coloridas. Fui separando cada camada de cor”.


Assim tomam corpo os poemas-objetos de Mônica Rubinho: um aquário de vidro quadrado, cheio de água, carrega ao fundo, mergulhada, a frase: “sonhei que estávamos juntos”. Vê-se ainda um desenho em oito partes, feito inteiramente com papel fungado, intitulado “Vivos e isolados”. “Ia molhando e guardando folhas de papel, até que os fungos apareciam”.


Desde 1996, ano em que participou da coletiva Antarctica Artes com a Folha, Mônica Rubinho iniciou com o atual companheiro e idealizador do projeto, o artista Sidney Philocreon, uma forma original de cooperativa de artistas, chamada Linha Imaginária.  Com ela, artistas de várias partes do Brasil formam uma rede de informações e ajuda mútua, alertando para espaços disponíveis para mostras, articulando coletivas, enfim, distribuindo conteúdos para que os eixos da arte se alarguem no país. Exposições do projeto Linha Imaginária já percorreram países como Cuba, Austrália e Estados Unidos. Neste mês, Mônica exibe suas obras na galeria Léo Bahia, em Belo Horizonte.




Katia Canton: jornalista e crítica de arte, docente e curadora de arte no Museu de Arte Contemporânea da USP, mestra e doutora em artes interdisciplinares pela New York University, USA.

Texto editado na revista BRAVO nº 64 , Atelier de Artista, pág 52, 53 – ano de 2003.

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